Monday, February 27, 2006

Fome de se encontrar...



"
Sou minha própria paisagem..."
Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem
Assisto à minha passagem
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Alberto Caeiro

Foto by Lylian Cândido

Permacultura - Ecologia Aplicada


Permacultura é uma filosofia que tem como proposta viver neste planeta causando um mínimo de impacto sobre o meio ambiente.

Lembrei imediatamente deste conceito e da ecologista Lisi, quando vi este macaquinho grudado numa árvore, lá no sítio do tio Ari, em São Francisco de Paula.

Foto By Lylian Cândido

Ouvir as Flores







Parafraseando Bilac


- Ora (direis) ouvir as flores......

Certo,Perdeste o senso!

E eu vos direi,

no entanto,Que,

para ouví-las, muita vez desperto ... E abro a

janela, pálida de espanto.

Fotos By Lylian Cândido

Saturday, February 25, 2006

Fome de mais tempo

A velhice pede desculpas
Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento. Tão velho estou , de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.

Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.

Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.

Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.

Cecília Meireles, 1958.

(Foto By Lylian Cândido -Parte da instalação de Arte premiada, Mãos)

A cada 3,5 segundos um ser humano morre de fome no mundo.


Fome
Calcula-se que 815 milhões, em todo o mundo sejam vítimas crônica ou grave subnutrição, a maior parte das quais são mulheres e crianças dos países em vias de desenvolvimento.

O flagelo da fome atinge 777 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, 27 milhões nos países em transição (na ex-União Soviética) e 11 milhões nos países desenvolvidos.

A subnutrição crônica, não conduz apenas à morte física, mas implica frequentemente uma mutilação grave, nomeadamente a falta de desenvolvimento das células cerebrais nos bebês, e cegueira por falta de vitamina A. Todos os anos, dezenas de milhões de mães gravemente subnutridas dão à luz dezenas de milhões de bebês igualmente ameaçados.

confrontos.no.sapo.pt/page4.html

Foto by Lylian Cândido

Você tem fome de que?


Comida

Bebida é água
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?
a gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte
.a gente não quer só comida
,a gente quer saída para qualquer parte.
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?
a gente não quer só comer,
a gente quer comer e quer fazer amor.
a gente não quer só comer,
a gente quer prazer pra aliviar a dor.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer dinheiro e felicidade.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer inteiro e não pela metade.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?


Marisa MonteComposição: Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Brito

Benditos os olhos que refletem...


Benditos os machados cientes de que seus cabos são feitos de árvore e as gaiolas abertas à liberdade; as agulhas que tecem o avesso da dessolidariedade e as facas de pontas arredondadas; a música de emoções indeléveis e os espelhos que refletem as mais saborosas oferendas da existência.

Foto by Lylian Cândido -Olho do Dudu

Benditas as fomes de transcendência...


Benditas as fomes de transcendência, de prefigurações do eterno, de jovialidade do espírito, do bolo fatiado pelo cuidado materno, de vertigens místicas, de astros acelerados pela rotação de tantos sonhos redivivos.






Foto by Lylian Cândido - La Luna

Benditas a preguiça dos sinos das igrejas...



Benditas a ira contra os pincéis que rasgam telas; a luxúria dos balés musicados por virtudes; a preguiça dos sinos de igrejas; a avareza de quem se guarda dos vícios; e a lenta maneira de fazer crescer plantas, cumplicidades e gente.

Foto by Lylian Cândido - Pelotas - RS

Benditos a gula de Deus...


Benditos a gula de Deus, os vulcões ativados nas entranhas, o arco-íris da pluralidade de idéias, a confraria das boas ações, os livros que nos lêem, os poemas ecoados no centro da alma, a rua deserta ao alvorecer, o bonde invisível, a vida sem medos.

Benditas as mãos...


Benditas as mãos que traduzem sentimentos e semeiam carícias, aplacando a fome de afeto. E os olhos repletos de luzes e as palavras floridas de beijos. E esse voraz apetite de silêncio, leve como o vôo de um pássaro.

Benditos os bem-aventurados...


Benditos os bem-aventurados na ânsia de verem repartido o pão da vida, sem encherem a bolsa de sementes de podridão. Esses sentam-se à mesa com espírito solidário e têm direito à embriaguez do vinho que, transubstanciado, encharca o coração de alvíssaras.

Foto by Lylian Cândido

Benditas as manhãs...




Benditas a manhãs reinaugurando a vida após o sono; a idade esculpindo rugas carregadas de histórias; e a todos que, saciados de anos, não temem o convite irrecusável das bodas de sangue que, afinal, haverão de saciar a nossa fome de beleza.


Foto by Lylian Cândido (Da minha janela)

Benditos os que reverenciam o Sol...


Benditos os que reverenciam o sol, a flor, a água e a terra, e trazem um coração ao ritmo das estações, confeiteiros de primaveras espirituais. Esses sabem encher suas taças de chuva e assar o pão no calor de amizades

Foto By Lylian Cândido

Benditos todos que se irmanam ao canto telúrico de Francisco...


Benditos todos que se irmanam ao canto telúrico de Francisco e dançam ao ritmo alucinado dos girassóis de Van Gogh, impregnados da sabedoria búdica que não se algema à nostalgia do passado, nem se precipita na ansiedade do futuro. Eles saboreiam o presente como inestimável presente.

Foto By Lylian Cândido -Flor do Mel

Benditas as mulheres

Benditas as mulheres famintas de amor, feitas de fios de renda, a tecerem a vida na magia de pequenos gestos cotidianos: a cozinha limpa, o feijão catado, a cama arrumada e o vaso da janela regado de ternura. Elas conduzem a lua como um farol que, mês a mês, atrai seus corpos para rubros mares prenhes de vida.

Foto By Lylian Cândido

Benditas as fomes insaciáveis........



Benditas as fomes insaciáveis: de saber e de sabor; de despudor no amor; de Deus sob todos os nomes inomináveis. Fome de ócio sem culpa, de alegria interminável, de saúde e de prazer. Fome de paz. Saciada plenamente por justiça - a mais bendita das fomes, capaz de erradicar a fome maldita.

Foto By Lylian Cândido

Bendita a fome pelo saber..



Bendita a fome itinerante de homens ávidos de saber, curiosos quanto aos mistérios desse breve existir, e cujas mãos transmutam árvore em mesa, trigo em pão e leite em manteiga. Generosos, não precisam exibir espadas para provarem que são guerreiros. Espalhada à sua volta, a sombra do aconchego aninha a família em segurança.

Foto By Lylian Cândido