Sunday, March 19, 2006

Lista de compras de um homem que não consegue mais amar ou Um homem que vê a vida através de uma vitrine

Vou ao supermercado direto à seção de alimentos instantâneos, pré-cozidos, fast food. Procuro um alimento alternativo. Um alimento para a alma.Olho as etiquetas presas à prateleira.Percebo que estão misturados, corpo e alma. Me limito a observar e analisar com atenção os alimentos para a alma.Vou olhando os pacotinhos e latinhas com embalagem colorida e cuidadosamente desenhada para chamar minha atenção.
Coloco no carrinho:
1 lata de emoção
1 pacote de carinho1 pacote de amizade
2 caixas de desejo (levo uma porção extra)
1 caixa de compreensão
1 pacote de empatia imediata (é importante que gostemos das mesmas coisas)
5 doses de romantismo
2 doses de paixão pela Lua (é um ingrediente importante,mulheres gostam da lua)
1 caixa com 12 envelopes de palavras macias
2 kg de paixão100 de amor em barra (não é o ingrediente principal)
Dirijo-me ao caixa com o coração acelerado.Afinal, o amor está acontecendo em mim.Chego em casa e abro todas as embalagens imediatamente.Leio as instruções e modo de usar cuidadosamente.Basicamente as orientações são as mesmas.Misturo tudo. Guardo em pequenos potes esta mistura milagrosa.
Dou a pessoa que quero que se apaixone por mim. Dou a uma. Dou a outra.
Não importa o efeito que vou causar. Em mim, o processo é instantâneo e de pouca duração. Em pouco tempo já não sinto mais nada.
Meu coração deixa de acelerar, não sinto mais nenhuma emoção, nem saudade sinto mais. Então, pego um pacotinho do bolso e entrego à primeira faminta de amor que passar. E assim eu sigo. Amo e desamo como troco de roupa. Como escolho um prato no restaurante. Com um misto de curiosidade no início. Mas logo enjôo. Logo preciso de outro prato.Outro alimento.Outro sabor, outra cor.
Sou um homem que não sabe amar.
Um homem sempre em busca de novas emoções. Nem podem dizer que minto ou engano. Não.É que perdi a capacidade de amar de verdade.

Sou uma máquina que se alimenta de porções artificiais de emoção.

(A pior dor é a de não saber em que me transformei)

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