Saturday, February 06, 2010


Eu e a Lu


Wednesday, June 11, 2008

Nada

Nada
Eu queria ser grande, ser inteira, compacta.
Queria ser massa, ser corpo, ser plano.
Queria ser abrangente, ser volátil, ser etérea.

Queria ser.
Queria estar.

No entanto, sou grão, sou pedaço, sou fragmento.
Sou caco.
Sou risco, sou asco, sou resto.
Sou resto do que fui um dia.

Sou apenas fiapos, memórias, reticências, faz-de-contas, letras esparsas, solitárias.
Queria ser palavra, ser texto, ser alma, ser algo.
No entanto, sou nada.

Thursday, August 10, 2006

A Beleza

Escrever um texto sobre a beleza parece fácil.Mas...por ser a beleza um conceito subjetivo,posso falar apenas a partir do meu modo de ver o mundo,da minha experiência pessoal. Foram os gregos que descobriram que a beleza de um corpo não é apenas o resultado de proporções corretas mas, também, de uma postura anatômica particular.Concordo. O meu olhar sobre o mundo e as coisas sempre foi mais detalhado.Nunca olho uma coisa superficialmente.E muitas vezes busco a harmonia no que olho.Quero ver a harmonia de traços,a forma perfeita.Mas,inúmeras vezes encontro a beleza na desarmonia,no caos,no imperfeito.Pra mim,existe uma beleza triste no menino de rua sentado na calçada.Na mulher grávida,barrigão de fora,pedindo esmolas.No velho desdentado rindo feliz,sem nem ele saber de que.Existe uma beleza implícita,nas palavras,nos gestos,no olhar,mesmo daquele que é considerado "feio" esteticamente falando.Eu vejo a beleza no inesperado.A beleza que transcende a forma.E existe a beleza inexorável da música,da sinfonia que nos toca a alma como um sopro de vida,que nos faz estremecer e nos faz chorar.Viver para um ideal:a beleza...sim,de forma a passar essa beleza que percebo pras outras pessoas,como uma luz que passa através de meu corpo criando caleidoscópios coloridos e iluminando ao meu redor.Para que,de alguma forma,a vida fique mais leve,mais bonita.Assim eu quero viver para um ideal de beleza.

Wednesday, July 05, 2006

Desfragmentação

De pedaço em pedaço, me desfaço. Primeiro os pés. Guardo-os lado a lado numa caixa de sapatos, lógico. Olho para eles. Estão um pouco inchados e amassados por passarem o dia todo dentro de um par de botas.A meia de nylon deixou desenhos na pele.As veias azuis estão salientes.Passo o dedo por elas de leve. Sinto-as ainda quentes. Os dedos brancos, as unhas quadradas, delicadas.Cubro-os com um papel de seda.

Depois, guardo o umbigo numa caixinha de metal, destas de pastilhas Valda. Não consigo deixar de pensar que meu umbigo ficará com cheiro de eucalipto. Gosto de eucalipto. Meu umbigo redondo, pequeno, parece um botão cor-de-rosa.Mini. Umbigo inútil. Durante muito tempo olhei apenas para ele.

Os seios, guardo-os na gaveta da cômoda, entre lenços e cachecóis.


Os seios, guardo-os na gaveta da cômoda, entre lenços e cachecóis.

O sexo, debaixo do travesseiro, ao alcance da mão.

O coração, retiro-o com cuidado e sinto-o pulsar entre as mãos. Seguro firme.Temo abrir os dedos e que ele fuja, voe como um pássaro ágil, vivo, louco.Não, meu coração bate fraquinho. Olho com cuidado e vejo que tem as bordas amassadas.Alguns pedaços estão faltando.Fico pensando como ainda pulsa.Como ainda vive.Ou não vive? Ou é apenas impressão minha? Ou será reflexo involuntário de um pedaço de músculo? Guardo-o numa caixinha, no fundo de uma gaveta. Por cima, coloco cartas de amor não recebidas, poemas não escritos, fotografias esmaecidas.Ao lado, uma flor seca.


Minha memória guardo numa dessas caixinhas de separar coisas de costura.Um partezinha para as alegrias, duas para os sofrimentos.Outra para as esperanças.E uma última para a alegria de viver.

Os olhos, extraio um a um. Guardo-os na bolsa, irão onde eu for.

A voz, prendo numa gaiola.Ficará lá, à espera de um instante mágico em que precise de minha palavra, de meu grito.As mãos, estas mãos que buscam, que ardem, que doem, guardo-as nos bolsos de um casaco.Um dia desses, despretensiosamente, alguém as achará, tal qual uma moeda perdida e tão festejada. Assim,deito e não sou mais.Não existo Eu. Apenas partes do que fui.

Sunday, July 02, 2006

As 3



Acordar
as 3 da manhã
está virando um vício
ou melhor,
um suplício.

Acordo
da morte do sono
pra morte da vida

sozinha
no escuro
procuro uma saída

não há.


Portas e janelas
fechadas.
Escuridão.

Sunday, June 18, 2006

Príncipes e sapos

Era uma vez uma princesa que vivia numa torre, isolada do mundo.Ela podia falar apenas com um belo príncipe de um reino distante através dos pássaros que levavam e traziam mensagens. Numa noite de lua cheia ela sentiu doer o coração.O príncipe então disse-lhe que princesas não sentem dor. Princesas são corajosas, junto com os príncipes. Então, ela não sentiu mais doer seu coração.Ela era uma Princesa.


Um dia, a mesma princesa queria saber o que havia além do reino.Todos escondiam dela que não havia nada além do reino.Ela então,pegou um grande livro de couro, de capa vermelha, abriu e leu a sua própria história. Não havia reino,não havia princesa,não havia príncipe.Tudo não passara da invenção de um autor brincalhão e ela era nada mais do que uma personagem de uma história bizarra.


O príncipe virou um sapo? Não, o príncipe sempre foi um sapo disfarçado.

Thursday, April 20, 2006

De cor


De cor
Meu coração te sente
Te pensa
Te ama.

Mesmo que não te veja
Hoje
Ou nunca mais
Sempre lembrarei
Todos os caminhos que levam a ti
De cor.